terça-feira, 18 de março de 2008

Socorro, o professor sumiu - 03/2008

Escrevi essa coluna em Novembro de 2005, apesar de algumas nítidas melhorias, ainda acho que a educação seja um ponto fundamental para o nosso fortalecimento como nação e acredito que em face a outros setores temos avançado muito lentamente. Continuo acreditando que o nosso compromisso com as gerações futuras e com o futuro do nosso país passa por não nos acomodarmos.

Coluna na íntegra: Publicada em 18 de novembro de 2005

Uma discussão muito atual é a informatização das escolas e a utilização da Internet como ferramenta pedagógica. Muito bem, como a maioria das pessoas, eu também sou a favor e imagino que seria muito melhor que, em cada escola do Brasil, os alunos pudessem ter acesso à tecnologia e, principalmente, à rede mundial de computadores. Mesmo porque, se imaginarmos uma aula de geografia com o auxílio da Internet - ou mesmo uma aula de história, matemática, com a utilização de vários recursos multimídia -, estaríamos falando de uma gama muito maior de informações e, com certeza, uma maior participação por parte dos alunos.

Então eu me pergunto: por que não? Por que estamos tão atrasados? A primeira resposta que me vem à cabeça é a falta de recursos e de políticas públicas etc. Essas justificativas que a gente sempre dá para quase todas as coisas que, de certa forma, não andam bem. No entanto, como sempre me interessei pelo assunto, procurei saber um pouco mais sobre o que acontece na realidade.

Para minha surpresa, descobri uma coisa que, com certeza, vai “chocar” a maioria de vocês. Pasmem!!! O principal obstáculo para a implantação mais eficaz desse modelo de ensino vem dos próprios educadores!!! Isso mesmo!!! Os próprios professores e profissionais de educação, que não estão preparados para utilizar a tecnologia como ferramenta pedagógica!!! Cheguei a ver a entrevista de uma professora que dava aulas em uma escola-modelo. Lá, em cada carteira, havia um computador conectado à Internet, mas todos ficavam desligados durante toda a aula e só eram liberados nos intervalos.

A entrevistada dizia que ela, como educadora, não poderia usar tal ferramenta por total desconhecimento de como fazê-lo. Fiquei vendo aquela mulher e imaginando a minha mãe - que por sinal é pedagoga formada - dizendo pra mim: “eu não sei nem ligar esse trem de computador”. Ou mesmo meu pai, que, além de advogado, é administrador formado e utiliza o computador só pra jogar paciência... e, mesmo assim, perde a paciência. Ao ver isso, me deu a luz. Entendi o que isso queria dizer. Aposto que, naquela sala de aula com cerca de 50 alunos, a pessoa menos indicada para ser a professora estava lá, em pé, diante daquelas 50 cabeças ávidas por informação e trazendo com elas a realidade de um mundo com celular, Internet, satélites etc.

Imagino que essa professora não ligou os computadores com medo de acabar “tomando uma aula” de seus próprios alunos ou mesmo ser questionada por algum intrépido aluno: “professora, você tem Orkut?” Imaginei também todos os meus antigos professores, imaginei cada professor desse país olhando para aquela caixa “do diabo” e pensando que aquilo ensinava mais que ele e que aceitar aquilo seria decretar o fim da sua existência.
Por isso, hoje, mudei a minha tática. Acho que não podemos esquecer disso, antes de pensar em encher nossas escolas de computadores. Precisamos encher de professores capacitados, de gente preparada para usar essa ferramenta. Não tenho dúvidas de que isso é o futuro. Mas o mundo mudou muito e é até capaz que a gente ainda veja uma sala de aula com 50 professoras e um “menino” de “mouse” na mão ensinando o doublé-click.


Abraços

Ricardo Fonseca

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